DE HELOÍSA DA SILVA BORGES
Ao refletirmos sobre o processo de construção do conhecimento em nossas instituições escolares, não podemos deixar de lado o currículo e sua ligação com a cultura local e os aspectos ideológicos impostos pela classe dominante. O currículo, tal como a cultura, é uma zona de produtividade. Essa produtividade, entretanto, não pode ser desvinculada do caráter social dos processos e das práticas de significação. Cultura e currículo são, sobretudo, relações sociais.
Embora o currículo esteja submetido a regras, restrições, convenções e regulamentos próprios da instituição educacional, também pode ser visto como um texto e analisado como um discurso. O currículo é um espaço, um campo de produção e criação de significado. Com este instrumento se produz sentido e significado sobre os vários campos e atividades sociais.
No currículo TRABALHA-SE os sentidos e significados recebidos e materiais culturais existentes. Nesta perspectiva, devemos analisar os seguintes aspectos na discussão do currículo: a) prática de significado; b) prática produtiva; c) relação social; d) relação de poder; e) prática que produz identidades sociais. Reafirmamos portanto, a importância da função da escola no processo de construção do conhecimento.
Estes processos devem ser desenvolvidos em conjunto por alunos e professores na tentativa de responder aos desafios de sua realidade. Pois pertence à escola a responsabilidade em parte, pelo desenvolvimento do arcabouço cognitivo (ao nível individual) e conceituais (no plano da produção social do conhecimento) imprescindíveis à sustentação ou a renovação da cultura.
A escola, através do currículo, não pode mais desconhecer as diferenças culturais, de gênero, de raça, de cor, de sexo etc., existentes em todo o enfoque cultural. Desta forma, o currículo está intimamente ligado às questões culturais desde o momento que se faz a pergunta: Currículo é para quem? Assim sendo, o currículo é um terreno de produção cultural na qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão.
Assim, o currículo, visto como texto, como discurso e matéria significante, não pode ser separado de relações de poder quando fazemos ponte com a escola. Pois ele centraliza o projeto educacional, seja crítico ou não. Pensar o currículo como ato político consiste, precisamente, destacar seu envolvimento com as relações de poder.
Partindo-se do pressuposto que todo o currículo é uma forma de poder, podemos então compreender o porquê das lutas internas e externas no Congresso Nacional para as aprovações das Leis (Diretrizes Básicas), âmbito em que ocorre o jogo das forças políticas sociais e econômicas. É nesse sentido que o currículo entra em discussão na época das aprovações da Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes de Bases da Educação – LDB nº 9.394/96 e depois nos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, do Ministério da Educação e do Desporto – MEC. Desta forma, os parâmetros curriculares mínimos são dimensões da política educacional para formação da sociedade brasileira.
Toda a discussão que foi gerada em torno dos PCNs, está voltada para as políticas curriculares com intuito de atender aos acordos feitos com o Banco Mundial e firmados na Conferência Mundial de Educação para Todos, em 1990. O propósito foi de colocar o país dentro dos eixos internacionais da globalização. O papel principal da revisão curricular é de formar mão-de-obra e o currículo escolar, assim como os demais aspectos da vida social, estão carregados e modelados por ideologias.
É neste sentido, que a seleção dos conteúdos curriculares não poderá ser adequadamente compreendida como um processo no qual participa todo o conjunto da sociedade (alguns com mais ou menos poderes, outros com maior ou menor consciência), pois selecionar, classificar, distribuir e avaliar conhecimentos põe em ação as múltiplas representações que percorrem os espaços culturais, e não somente aquelas elaboradas pelos grupos dominantes.
Estamos no meio de uma luta decisiva pela demarcação do que significa uma nova sociedade e do significado da própria identidade social que queremos ver construída. O projeto hegemônico, neste momento, é um projeto social centrado na primazia do mercado, nos valores puramente econômicos, nos interesses dos grandes grupos industriais e financeiros. Precisamos avaliar se é realmente isso que queremos.
O currículo é um dos espaços centrais desse projeto de transformação conservadora e pode ser também, se quisermos, um espaço de afirmação e construção de projetos alternativos e críticos. É no momento do currículo que se cruzam práticas de significados, identidade social e poder. Neste sentido, travam-se lutas decisivas por hegemonia, por predomínio, por definição e domínio do processo de acepção. Essas lutas são travadas através da política curricular e do discurso, sendo assim, o currículo tanto expressa as visões e os significados do projeto dominante quanto ajuda a reforçá-las, a dar-lhes legitimidade e autoridade. Por outro lado, é possível através do cotidiano escolar fazermos o trabalho da contramão, não esquecendo que, no currículo, se disputa um jogo decisivo.
O currículo escolar deve estar diretamente relacionado às expectativas multiculturais e trabalhar de forma a valorizar e respeitar as diferenças. A escola precisa abrir espaços para que estas representações, que têm sido silenciadas e excluídas na sociedade, possam entrar e conhecê-las como culturas presentes no dia-a-dia da escola. Ou seja, a escola precisa somar a teoria com a prática da realidade social.
Palavras-chave: Cultura, Educação, Identidade, Currículo.
muti bom
ResponderExcluirbeijocasss mil no coraçãoooo
Amei visitar o blog, alem de ser criativo e prazeroso de se ver e ler, encontrei o que eu precisava.
ResponderExcluirOlá! Gostaria apenas de uma idéia mais clara sobre esta parte. "A escola, através do currículo, não pode mais desconhecer as diferenças culturais, de gênero, de raça, de cor, de sexo etc., existentes em todo o enfoque cultural. Desta forma, o currículo está intimamente ligado às questões culturais desde o momento que se faz a pergunta: Currículo é para quem? Assim sendo, o currículo é um terreno de produção cultural na qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão."
ResponderExcluirOi gostaria de uma ajudinha...
ResponderExcluirQuero uma ideia mais objetiva sobre
esta parte: "A escola, através do currículo, não pode mais desconhecer as diferenças culturais, de gênero, de raça, de cor, de sexo etc., existentes em todo o enfoque cultural. Desta forma, o currículo está intimamente ligado às questões culturais desde o momento que se faz a pergunta: Currículo é para quem? Assim sendo, o currículo é um terreno de produção cultural na qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão."
puxa adorei seu blog ,precisava fazer um trabalho para a faculdade me ajudou muito.Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom viu... me ajudou muito... adorei o blog!
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